quarta-feira, outubro 13, 2010

Série Escritores da Língua Portuguesa: Conceição Lima

CONCEIÇÃO LIMA



Após o ardor da reconquista
não caíram manás sobre os nossos campos.
E na dura travessia do deserto
Aprendemos que a terra prometida
era aqui.
Ainda aqui e sempre aqui.
Duas ilhas indómitas a desbravar.
O padrão a ser erguido
pela nudez insepulta dos nossos punhos.
(Descoberta, 1984)


Natural de Santana, São Tomé e Príncipe (1961), Maria da Conceição Costa de Deus Lima, ou Conceição Lima, surgiu no período pós-colonial como uma das principais poetas contemporâneas da África de língua portuguesa.

Com apenas 19 anos, a jovem poeta viajou a Luanda, Angola, para a 6a Conferência de Escritores Afro-Asiáticos. Cinco anos mais tarde, em 1984, renomou-se nacionalmente ao publicar o poema Descobertas em um caderno poético com outros 4 conterrâneos.

Após estudar jornalismo em Portugal, retornou à sua terra e trabalhou em diversos setores da mídia, fundando em 1993 o já extinto jornal independente semanal "O País Hoje".

Conceição Lima também estudou Estudos Afro-Portugueses e Brasileiros no King's College em Londres e Estudos Africanos na School of Oriental and African Studies (SOAS). Conceição Lima reside atualmente em Londres.

Apesar das diversas publicações de poemas em jornais, revistas e antologias de vários países ao longo dos últimos 20 anos, seu primeiro livro, O Útero da Casa, foi publicado em 2005.

"O Útero da Casa é um livro diferente. Obra de análise íntima, traz-nos por vezes a meia voz, através da saudade e da mitificação das coisas amadas, a cor e a alma da ilha mãe de São Tomé, a sua dengue beleza, sua viuvez, seus palmares, o cantar dos búzios, a casa (o útero) centro do mundo, presente e futuro. Alta, perpétua claridade, pedra de reunião.

Nestes versos em que se confrontam criaturas e lugares do outrora, que o tempo magnifica, com a nitidez do hoje, ouvimos a brisa nos canaviais, sentimos o odor do café e do cacau, vemos os ibiscos e o barro vermelho, o perfil da mesquita, a cidade morta, o mar.

"Lê-se a mátria na terra sensual, até na luz da fruta, no sangue da lua, nas mãos de húmus e basalto.

"Conceição Lima escreve-se, em ideia e corpo, na carne viva da ilha".
(Urbano Tavares Rodrigues)





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